Nos últimos 50 anos os hábitos alimentares sofreram alterações drásticas, tendo a globalização contribuído em muito para isso. Mas não só! A melhoria da tecnologia disponível nas nossas casas, incluindo na cozinha, a evolução científica e facilidade de acesso à informação, cada vez mais acessível por via online, são fatores que igualmente influenciaram e continuam a influenciar os hábitos alimentares da população.

Como se sabe, a (correta) alimentação desempenha um papel crucial na prevenção de diferentes doenças crónicas não transmissíveis, como a obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro. Contudo, o que vemos atualmente é o crescimento desse tipo de doenças, o que é, até certo ponto, contraditório com as tendências atuais.

Segundo o Kerry Health and Nutrition Institute, existem 10 tendências chave no âmbito da alimentação, nutrição e saúde para 2020 e 2 “mega” tendências que se sobrepõem a todas as essas: sustentabilidade e “naturalmente funcional”. Será que contribui para alguma delas?

Vejamos as 2 Mega Tendências:

Sustentabilidade
A sustentabilidade é algo atualmente indissociável da mente de grande parte dos consumidores e significa, de forma simplista, que devemos desenvolver algo no presente sem comprometer o futuro das próximas gerações. A sustentabilidade deve englobar não só o produto como as suas embalagens, mas também em nossas casas: do prado ao prato.

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“Naturalmente funcional”
Já no que concerne ao “naturalmente funcional” e tendo em conta o nosso cada vez melhor conhecimento científico sobre os alimentos, falamos que os alimentos são mais do que “a soma das suas partes”! Ou seja, procuramos cada vez mais alimentos com benefícios para a saúde acrescidos nas suas propriedades nutricionais.

Falando agora das 10 tendências gerais… muitas delas estão relacionadas entre si e, tal como se costuma dizer, não há uma linha rígida que as separe.

Bons e maus hidratos de carbono
Os hidratos de carbono (HC) têm sido “perseguidos” ao longo do tempo, principalmente por quem procura “contar calorias” nas dietas de emagrecimento. Contudo, o que acontece hoje é que o consumidor já está mais informado e procura diferenciar o que são os HC com má conotação na saúde (os HC simples, como o açúcar de mesa) e os HC bons, ou seja os complexos, como os naturalmente presentes na fruta, vegetais e grãos. Estes últimos devem ser consumidos inteiros (integrais), pois aportam muito mais benefícios para a saúde do que os seus equivalentes refinados, contudo, o seu consumo ainda é diminuto. Temos por isso uma enorme oportunidade para inovar nas nossas refeições diárias.

Produtos plant based
Quando falamos de produtos “plant based” não podemos dissociar a correta nutrição e a sustentabilidade. Quando surgiram os primeiros produtos à base de vegetais, o que se verificava é que o consumidor procurava apenas “evitar” a carne, contudo, assistimos hoje a uma mudança na sua mentalidade: além de procurar um produto com base vegetal a composição não pode prejudicar a saúde, deve ser o mais “natural possível” e deve ainda ter preocupações com o ambiente. Portanto, quando for comprar um produto deste género, leia a lista de ingredientes e analise a informação nutricional, para além de que deve tentar perceber a marca tem alguma política de sustentabilidade definida.

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Bem-estar intestinal
O trato gastrointestinal é essencial para a adequada digestão dos alimentos e absorção de nutrientes, contribuindo para um sistema imunitário saudável. O foco desta tendência reside nos alimentos que ajudam a manter o nosso intestino a funcionar corretamente. São cada vez mais os produtos que têm probióticos, alimentos fermentados, pré-bióticos e fibras na sua formulação. E ainda bem! Procure integrar na sua alimentação iogurtes, kefir, pickles produzidos de forma tradicional, a tão afamada kombucha ou o kimchi.

 

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Gordura renascida
À medida que a ciência evolui percebemos, cada vez melhor, os impactos que cada tipo de gordura tem na nossa saúde. É sabido que as gorduras insaturadas são as consideradas “boas” e que as saturadas são as “más”. Contudo, nem tudo é linear, e recentemente alguns estudos têm indicado que a gordura láctea, por exemplo, apesar de ser predominantemente saturada, pode não contribuir para o aparecimento de doenças cardiovasculares devido à mistura única de nutrientes na matriz láctea. Ou seja, mais uma vez temos de ver os alimentos como um todo e não “como a soma das suas partes”.

 

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Autenticidade e proveniência
Cada vez mais é importante saber que uma marca é autêntica e transparente para que a confiança no que se compra seja garantida. Além disso, a procura por produtos nos quais se reconheçam todos os ingredientes, a sua simplicidade, que remeta para o tradicional e cada vez mais para o clean label, é muito valorizado. Mas igualmente se procura saber a proveniência do produto, valorizando o que é local e cultural.

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Proteína
Se por um lado os consumidores evitam a todo o custo os açúcares e as gorduras, por outro, procuram substituí-los por proteínas, já que estas têm uma associação positiva com a melhoria da massa corporal magra (muito ligada aos desportistas) e a redução da fome entre as refeições. Esta tendência também está muito relacionada com a “plant based”, já que a escolha do tipo de proteína importa muito no desenvolvimento de novos produtos. Mas lembre-se de ler sempre a lista de ingredientes, para “não ir ao engano”.

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Carne reinventada
O debate sobre o consumo de carne continua a aceso, mas mais estudos estão a surgir e as carnes elaboradas em laboratório a ganhar mais terreno, já que a sustentabilidade é um fator chave. Atualmente, o custo e a aceitação do consumidor ainda apresentam muitos obstáculos, mas existe certamente um futuro para esta ideia ainda em fase embrionária.

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Humor
A comida tem uma forte ligação às emoções, quer seja para socializar, celebrar ou confortar. Afinal quem não fica contente quando se cantam os parabéns à volta de um bonito e saboroso bolo, ou quem não fica enternecido quando os avós enviam uns pastéis caseiros da terra? Mas o que tem sido surpreendente é que as evidências científicas têm mostrado que o microbioma intestinal (bactérias) pode comunicar com o cérebro (o chamado eixo “intestino-cérebro”), influenciando o comportamento e as respostas ao stress. Além disso, alguns ingredientes como o açafrão, L-teanina, ginseng, vitaminas do complexo B e gingko têm surgido quando o humor é discutido.

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Energia 2.0
A energia tem diferentes significados entre diferentes pessoas. Se para uns significa ter capacidade de concentração e estimulação mental, para outros está relacionada com a capacidade de realizar algum tipo de trabalho físico ou exercício. O certo é que a energia deixou de ser apenas o “tomar uma chávena de café pela manhã” ou “uma bebida energética à tarde”. Criaram-se 2 vertentes: a energia física e outra a mental. Para a primeira destacam-se ingredientes como proteínas, fibras, grãos integrais e gorduras saudáveis e na segunda, para além da cafeína, a teína e também os triglicerídeos de cadeia média.

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Apesar de todos os anos sermos presenteados com diferentes tendências, o certo é que não podemos esquecer que a nossa alimentação vai influenciar o que somos e que a evidência científica continua a reforçar que a Dieta Mediterrânica é o padrão alimentar que devemos seguir.

Aproveitemos o que a indústria nos disponibiliza para experimentarmos e usufruirmos de experiências inovadoras, mas lembremo-nos sempre que a nossa alimentação deverá ser equilibrada, variada e completa.

Artigo elaborado por: Mayumi Thaís Delgado, Nutricionsita 0960N

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